Mariquinha minha prima,
Moça educada e decente,
Tinha uma vida pacata
No meio da sua gente,
Mas agora vive rindo,
Porque o namorado Arlindo
Deu-lhe um garboso presente.
Ela ficou tão feliz
Com aquela bela ação,
Achou seu presente lindo
E pôs na palma da mão.
Virou sua favorita;
Uma bela periquita
Verdinha como um limão.
E todos que ali passavam
Ficavam lhe admirando
E Mariquinha com ela
Somente lhe segurando.
Ela ficava quietinha
Só levantava a perninha,
Pois estava apreciando.
1
Um gesto de regozijo
Era visto em Mariquinha!
Todo mundo que passava
Olhava a periquitinha.
Um velho que lá passou,
Bem suave lhe alisou,
Achando ela uma gracinha.
A periquita da moça
Era o encanto do lugar!
Vinha até gente de longe
Só para lhe cultuar.
Mariquinha satisfeita,
Todo momento aproveita
Pra seu presente afagar.
O seu namorado Arlindo
Tinha grande estimação.
Amava a periquitinha
Com a maior devoção.
Todo dia a visitava;
Dava um beijo e alisava
Que até chamava atenção.
2
Um rapaz da redondeza
Por ela se apaixonou.
Uma vez foi visitá-la,
Passou a mão e a beijou.
Mas Arlindo enciumado
Ficou tão desconfiado
Que com o rapaz brigou.
Toda noite a periquita
Era tão paparicada!
Uns lhe passavam a mão
Outro dava uma mimada.
Seu namorado pensando
Mariquinha só lhe olhando
A ‘bichinha’ arrepiada.
As moças da região
Tinham uma inveja danada
Daquela periquitinha
Que já estava afamada.
Pensando que era brinquedo
Joaninha botou seu dedo,
Tomou logo uma bicada.
3
Essa
periquita era
O
assunto da cidade,
Pois
todos queriam vê-la
Só por curiosidade.
E
Mariquinha amostrava;
Quem
via se apaixonava
Pois
criava afinidade.
Até
mesmo padre João
Foi
ver do que se tratava,
Quando
viu a periquita
A
cabeça balançava.
Pediu
pra passar a mão
A
moça deu permissão
Ele
quase não parava.
Mas
seu namorado Arlindo
Necessitou
se ausentar.
Estava
desempregado,
Precisava
trabalhar;
Como
era muito sagaz,
O
sonho deste rapaz
Era
logo se casar.
Viajou
pra capital
Com
muita preocupação.
Ele
sabia que o povo
Vivia
passando a mão
Na
periquitinha bela
Que
pertencia à donzela
Que
laçou seu coração.
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Arlindo
partiu tão triste
Pensativo
noite e dia.
Pensando
no passarinho
Que
lhe deu tanta alegria,
Até
sonhava com ela
Numa
noite bem singela
Assim
que ele adormecia.
A
saudade era tão grande
Que
lhe causava emoção.
Não
tirava ela da mente
Que
doía o coração.
Quando
dela se lembrava
O
rapaz se definhava
Escutando
uma canção.
Um
dia Arlindo sonhou,
Assim
que foi se deitar
Que
Mariquinha faceira
Viera
lhe visitar.
E
até trouxe a periquita
Bem
cheirosa e mais bonita
Para
as saudades matar.
Ele
se acordou tão triste
Que
ficou preocupado.
Resolveu
lhe escrever
Uma
cartinha apressado.
E
mandou pra namorada,
A
moça mais recatada,
Que
era seu anjo adorado.
5
─ Mariquinha, meu amor,
Eu não sei o que fazer,
Pois ontem sonhei contigo...
Minha razão de viver!
Minha linda favorita
Sem a sua periquita,
Sei mesmo que vou morrer!
Minha amada, eu não suporto
Esta grande solidão!
Sem você e a periquita
É triste a situação.
A saudade me apunhá-la
Só desejo contemplá-la,
Cheirá-la e passar a mão.
Meu amor por ti é grande
Minha,doce Mariquinha,
Mas a saudade maior
Tenho da periquitinha!
Cuide bem desta danada
Não lhe deixe faltar nada,
Minha futura rainha.
6
Aqui termino estas linhas
Mas com saudades no peito.
Pensando na periquita
Nunca mais dormi direito.
Um abraço apertado
De Arlindo o seu amado
Que aqui vive insatisfeito.
Mas quando ela recebeu
E leu aquela cartinha,
Sentiu um forte arrepio
E um beliscão na espinha.
Ela olhou pra periquita,
Percebeu que estava aflita
E ficara geladinha.
Naquele mesmo momento
Com o namorado falou,
Pediu para ele voltar...
Ele de emoção chorou.
Sua alegria extravasa,
Retornou pra sua casa
Pra sua amada voltou.
7
Assim
que chegou em casa
Foi
visitar Mariquinha!
Matar
as suas saudades
E
ver a periquitinha.
Pois
assim que viu Arlindo
Saltou
um canto aplaudindo
E
ficou assanhadinha.
Deu
um beijo em Mariquinha
E
lhe ofertou uma flor
Abraçou
a namorada
Com
desejo e mui dulçor
Aquela
moça bonita
A
dona da periquita
Que
conquistou seu amor.
Ele
a tirou da gaiola
Pôs
na mão e alisou
Fez
carinho no seu papo
Apertou-a
e até beijou
A
moça a se precipita
E
daí a periquita
Bateu
asas e voou.
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