terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O CORDEL FOI A CARTILHA...



O Sertão está moderno
E o povo é mais consciente,
Mais num passado recente
Faltava livro e caderno.
A seca é sempre um inferno,
Faltava pão pra comer
Aonde se ia escrever
Sem livro sem apostila?
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Meu primeiro bê-á-bá
Aprendi lendo cordel.
Naquele simples papel
Passei a conhecer o “A”.
Daquele dia pra cá
Aprendi a escrever,
Grande foi o meu prazer
Quando li uma sextilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Quando eu chegava na feira
Via o cordel pendurado
Na banca pra ser comprado
De forma muito faceira.
Tinha de toda maneira,
A gente podia escolher,
Todos eram pra vender
E eu formava uma pilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

O cordel é o folheto
Que só contém poesia,
Traz para o povo alegria
Não é algo absoleto,
Cultivá-lo eu prometo
Enquanto aqui eu viver.
Não deixo esta arte morrer
Porque no Nordeste brilha,
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Nosso maior Cordelista
Leandro Gomes de Barros
Que andou pouco em carros
Nesta arte foi artista,
Foi o primeiro da lista
Fez o folheto nascer,
Estruturou e fez crescer
O seu dom se fez partilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

No Sertão as criancinhas
Quando brinca é com papel
Manuseando cordel
E lá aprende as letrinhas,
Grandes e pequenininhas
Já começam escrever
Sem a leitura perder
Escorado na forquilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

O cordel tem seu valor
E chegou na universidade
Com grande utilidade
Pra aluno e professor,
Que inclui no seu labor
Literatura de poder
Que enche de ego o ser
Na hora que compartilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Quando é noite no Sertão
Fazemos uma fogueira
E os folhetos da feira
É a nossa atração,
Não tem outra diversão
Pra gente ir ou fazer
O povo vai se valer
Da rima de uma sextilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Quando eu era pequenino
Papai lia para mim,
“O Reino do Mar Sem Fim”
E eu achava divino
Aquele livreto fino
Ao ouvir dava prazer
Fazia papai reler
Aquela linda maravilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Esta cultura tão bela
Que veio de Portugal
Serviu muito de jornal
Nas mãos de gente singela.
O Nordeste gosta dela
Porque aqui o viu crescer;
Resistiu não vai morrer
É nossa eterna maravilha,
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Este Nordeste da gente
Destaca-se nos artistas.
É terra de cordelistas
Nisso o Nordeste é potente.
O cordel e o repente
Tende a se desenvolver
Pra gente cantar e ter
Martelo,oitave e septilha,
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

No Sertão antigamente
Não havia escrituras
E com poucas literaturas
Algo assim lentamente.
O Nordeste sai na frente
Fez a cultura nascer
Aprenderam a escrever
E eu fui na mesma trilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

No Sertão que fui criado
Não se ia pra escola
Só tinha o som da viola
E o folheto abarrotado.
O poeta inspirado
Tinha pra dar e vender.
Ele me fez entender
E meu pai botava pilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Minha escola foi roçado,
Meu lápis foi a enxada,
A lavoura a tabuada,
O professor foi o gado.
O livro foi o machado,
O campo foi meu viver,
O cordel eu sonhava ter
Nossa eterna maravilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

“Juvenal e o Dragão,”
“O Pavão Misterioso,”
Que cordel maravilhoso!
”Ferra Brás” e “Lampião!”
“Gonzaga Rei do Baião”
Na feira tem pra vender,
Desejo muito reler
Martelo com redondilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Quando eu ia pra o roçado
Levava um cordel no bolso,
Pra que depois do almoço
Eu pudesse soletrar.
Ao invés de descansar
Eu queria era aprender
Quando eu ia perceber
Desarmava a armadilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Coco Verde e Melancia”
E a “Donzela Teodora,”
“João Grilo”,Mãe lê e chora
Eu gostava e relia.
Cada verso eu sorria
Depois eu ia escrever
E para não esquecer
Decorava uma sextilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

No cordel eu consegui
Rezar com Frei Damião
Com Padre Cícero Romão
Também com ele aprendi
Eis nossos ídolos aí
Lampião, pra que temer?
Jackson eu quero ter ver
Com teu pandeiro que brilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Esta arte poderosa
Veio aqui de Portugal,
No navio de Cabral
Era semelhante a prosa,
Porém o Nordeste glosa
No seu modo de fazer.
Mudou-se a forma de escrever
E na escola hoje brilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Leandro foi o primeiro,
João Martins o segundo
Dois cordelistas profundo
Aqui foram pioneiros.
Conquistaram o mundo inteiro,
Levou o Brasil a ver
A cultura do escrever
Poema, mote e sextilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

 Cordel, rap e viola
Todos estão atrelados,
Ficamos maravilhados
Mas o cordel extrapola.
O repente é a mola;
Faz o poeta crescer,
Pensar e desenvolver
E fazer crítica da partilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

O cordel antigamente
Era coisa de matuto,
Porém hoje galgou fruto
Na mão do inteligente.
Seu público é excelente.
Na feira já não se ver,
Na escola é pré ter
Ao lado da apostilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Com o cordel aprendi,
Com o cordel me informei,
Pelo cordel eu amei,
Por ele correspondi.
Com o cordel decidi
Uma carta escrever,
Quando fiz pude reler
O orgulho me deu pilha.
O cordel foi a cartilha
Que ensinou o Sertão a ler.

Peço aqui aos professores;
Use esta literatura,
É ensino é cultura
Para se fazer doutores.
Vamos despertar leitores
Fazendo o aluno crescer.
A leitura é um prazer
Faça ele entender
A rima de uma sextilha.
O cordel foi a cartilha
                   Que ensinou o Sertão a ler.               




Pádua Gomes Gorrión                                                                  

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