O Sertão está
moderno
E o povo é
mais consciente,
Mais num
passado recente
Faltava livro
e caderno.
A seca é
sempre um inferno,
Faltava pão
pra comer
Aonde se ia
escrever
Sem livro sem apostila?
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Meu primeiro bê-á-bá
Aprendi lendo
cordel.
Naquele
simples papel
Passei a
conhecer o “A”.
Daquele dia
pra cá
Aprendi a
escrever,
Grande foi o
meu prazer
Quando li uma
sextilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Quando eu
chegava na feira
Via o cordel
pendurado
Na banca pra
ser comprado
De forma muito
faceira.
Tinha de toda
maneira,
A gente podia
escolher,
Todos eram pra
vender
E eu formava
uma pilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
O cordel é o
folheto
Que só contém
poesia,
Traz para o
povo alegria
Não é algo
absoleto,
Cultivá-lo eu
prometo
Enquanto aqui
eu viver.
Não deixo esta
arte morrer
Porque no
Nordeste brilha,
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Nosso maior
Cordelista
Leandro Gomes
de Barros
Que andou
pouco em carros
Nesta arte foi
artista,
Foi o primeiro
da lista
Fez o folheto
nascer,
Estruturou e
fez crescer
O seu dom se
fez partilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
No Sertão as
criancinhas
Quando brinca
é com papel
Manuseando
cordel
E lá aprende
as letrinhas,
Grandes e
pequenininhas
Já começam
escrever
Sem a leitura
perder
Escorado na
forquilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
O cordel tem
seu valor
E chegou na
universidade
Com grande
utilidade
Pra aluno e
professor,
Que inclui no
seu labor
Literatura de
poder
Que enche de
ego o ser
Na hora que
compartilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Quando é noite
no Sertão
Fazemos uma
fogueira
E os folhetos
da feira
É a nossa
atração,
Não tem outra
diversão
Pra gente ir
ou fazer
O povo vai se
valer
Da rima de uma
sextilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Quando eu era
pequenino
Papai lia para
mim,
“O Reino do
Mar Sem Fim”
E eu achava
divino
Aquele livreto
fino
Ao ouvir dava
prazer
Fazia papai
reler
Aquela linda
maravilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Esta cultura
tão bela
Que veio de
Portugal
Serviu muito
de jornal
Nas mãos de
gente singela.
O Nordeste
gosta dela
Porque aqui o
viu crescer;
Resistiu não
vai morrer
É nossa eterna
maravilha,
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Este Nordeste
da gente
Destaca-se nos
artistas.
É terra de
cordelistas
Nisso o
Nordeste é potente.
O cordel e o
repente
Tende a se
desenvolver
Pra gente
cantar e ter
Martelo,oitave
e septilha,
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
No Sertão
antigamente
Não havia
escrituras
E com poucas
literaturas
Algo assim
lentamente.
O Nordeste sai
na frente
Fez a cultura
nascer
Aprenderam a
escrever
E eu fui na
mesma trilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
No Sertão que
fui criado
Não se ia pra
escola
Só tinha o som
da viola
E o folheto
abarrotado.
O poeta
inspirado
Tinha pra dar
e vender.
Ele me fez
entender
E meu pai
botava pilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Minha escola
foi roçado,
Meu lápis foi
a enxada,
A lavoura a
tabuada,
O professor
foi o gado.
O livro foi o
machado,
O campo foi
meu viver,
O cordel eu sonhava
ter
Nossa eterna
maravilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
“Juvenal e o
Dragão,”
“O Pavão
Misterioso,”
Que cordel
maravilhoso!
”Ferra Brás” e
“Lampião!”
“Gonzaga Rei
do Baião”
Na feira tem
pra vender,
Desejo muito
reler
Martelo com
redondilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Quando eu ia
pra o roçado
Levava um
cordel no bolso,
Pra que depois
do almoço
Eu pudesse
soletrar.
Ao invés de
descansar
Eu queria era
aprender
Quando eu ia
perceber
Desarmava a armadilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Coco Verde e
Melancia”
E a “Donzela
Teodora,”
“João
Grilo”,Mãe lê e chora
Eu gostava e
relia.
Cada verso eu
sorria
Depois eu ia
escrever
E para não
esquecer
Decorava uma
sextilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
No cordel eu
consegui
Rezar com Frei
Damião
Com Padre
Cícero Romão
Também com ele
aprendi
Eis nossos
ídolos aí
Lampião, pra
que temer?
Jackson eu
quero ter ver
Com teu
pandeiro que brilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Esta arte
poderosa
Veio aqui de
Portugal,
No navio de
Cabral
Era semelhante
a prosa,
Porém o
Nordeste glosa
No seu modo de
fazer.
Mudou-se a
forma de escrever
E na escola
hoje brilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Leandro foi o
primeiro,
João Martins o
segundo
Dois
cordelistas profundo
Aqui foram
pioneiros.
Conquistaram o
mundo inteiro,
Levou o Brasil
a ver
A cultura do
escrever
Poema, mote e
sextilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Cordel, rap e
viola
Todos estão
atrelados,
Ficamos
maravilhados
Mas o cordel
extrapola.
O repente é a
mola;
Faz o poeta
crescer,
Pensar e
desenvolver
E fazer
crítica da partilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
O cordel
antigamente
Era coisa de
matuto,
Porém hoje
galgou fruto
Na mão do
inteligente.
Seu público é
excelente.
Na feira já
não se ver,
Na escola é
pré ter
Ao lado da
apostilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Com o cordel
aprendi,
Com o cordel
me informei,
Pelo cordel eu
amei,
Por ele
correspondi.
Com o cordel
decidi
Uma carta
escrever,
Quando fiz
pude reler
O orgulho me
deu pilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Peço aqui aos
professores;
Use esta
literatura,
É ensino é
cultura
Para se fazer
doutores.
Vamos
despertar leitores
Fazendo o
aluno crescer.
A leitura é um
prazer
Faça ele
entender
A rima de uma
sextilha.
O cordel foi a
cartilha
Que ensinou o
Sertão a ler.
Pádua Gomes Gorrión
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