quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O HOMEM QUE LARGOU A MULHER PRA MORAR COM UMA JUMENTA NA CIDADE DE INGÁ-PB



Deus queira me perdoar,
Pois tenho muito defeito
Neste mundo há de tudo
E nem tudo  é tão perfeito
Mas há coisa neste mundo
Que eu morro, mas não aceito.

Para escrever estes versos
Aos céus  eu pedi ajuda
Pra que saia bem narrado
E seu falhar Deus me acuda,
Pois o que eu vou lhe contar
É uma estória cabeluda.

Foi na cidade do Ingá
Seu povo ainda comenta
Porque foi um grande escândalo
Há família que lamenta
Dizem q’um homem trocou
A mulher p’uma jumenta.

Quando este fato explodiu
Houve quem quis  abafar,
Mas como sou atrevido
Escrevi para espalhar
Pra todo mundo saber
E os outros se exemplar.

1

Lá pras banda do Emboca
Morava Zé Marcolino,
Agricultor destemido,
Desde quando era menino.
Por todos era respeitado
E temeroso ao divino.

Este homem era casado
Com uma mulher bonita
Dessa bem comportadinha
Que quem vê não acredita.
O nome desta mulher
Era Zefa Benedita.

Zefa com Zé Marcolino
Era um casal exemplar
Viviam bem no amor
E souberam aproveitar
Pois nasceram cinco filhos
Fruto de este belo amar.

Os filhos de Zefa e Zé
Já haviam se casados
Sua casinha era humilde
Mas viviam sossegados.
Quem conhecia o casal
Ficava maravilhado.

2 

A rotina do casal
Era só de trabalhar
Aos domingos iam à igreja
Pois gostava de rezar
Seu roçado era sagrado
E não gostava de farrar.

Todo agricultor precisa
De um animal pra lhe ajudar
Nos afazeres domésticos
E pras coisas transportar,
E até para andar montado
Pra o corpo descansar.

Zé combinou com a mulher
Pr’uma jumenta comprar
Vendeu uns sacos de milho
E de feijão pra interar
Pois comprando uma jumenta
A luta ia maneirar.

Foi o amigo Mané Bento
Que c’o casal conversou
Conhecia uma jumenta
E para o casal  apontou
Que quando arrumou o dinheiro
A jumentinha comprou.

3

A jumenta era possante
Que com o casal podia
Eles iam pra o roçado
Na jumenta todo dia
Chegava em casa mais cedo
E o caminho encurtaria.

Zé Marcolino  jeitoso,
Dividiu logo o quintal
Pra guardar sua jumenta
Fez um pequeno curral
E foi nascendo o amor
Para com seu animal.

A jumentinha de Zé
Era muito estimada,
Bem cuidada e ‘mantiúda’
Por ser muito bem tratada.
Depois que Zé a comprou
Pra ela não faltava nada.

Zé montava na jumenta
Com a maior simpatia
Na cangalha ou na sela
Ele nunca lhe batia.
A jumenta se  tornou
Uma boa companhia.

4 

Um dia Zé foi pra roça.
Saiu de casa cedinho.
Montou-se em sua jumenta
Dessa feita foi  sozinho
Sem a sua companheira
Pegou depressa o caminho.

Quando chegou  no roçado
Foi dar água a jumentinha.
Resolveu lhe dar um banho
Pra deixá-la bem fresquinha
E na beira do riacho
Na jumenta fez ‘cosquinha’.

Ele todo empolgado
Lavou sua periquita
Com carinho e muito jeito
E a jumentinha  capita
Ela balançou seu ‘rabo’
E o fogo de Zé se agita.

Ele passa a mão de novo
E vê a jumenta girar
Para o lado da barreira
Para já facilitar
Daí  surgiu  seu  desejo
De com ela “namorar”.

5

E ela balançando o rabo
Dizendo que concordava
E Zé foi se animando
E a  jumentinha  gostava
E um plano pra transar
Na mente dele já estava.

Não pôde mais resistir
Se sentindo atraído
Alisava a jumentinha
Que já tinha lhe cedido
E faltava pouco tempo
Pra se tornar seu marido.

Ele olhou pr’os quatros cantos
E ninguém mais avistou
Viu que estava sozinho
E devagar se encostou
Segurando em sua cauda
E o ‘serviço’ começou.

Transou com sua jumenta
Demonstrando todo amor.
Demorou mais um pouquinho
Recuperando o vigor
Fez ‘amor’ mais uma vez
‘Que nem’ um  reprodutor.

6

 Acabando seu serviço
Zé retornou para casa
Com um sorriso no rosto
E bem quente feito brasa
Pois depois desse momento
O seu amor extravasa.

Quando a mulher não podia
Ir com ele pra o roçado
Zé ficava mais feliz
Porque ia acompanhado
Com sua bela jumenta
Contente e  realizado.

Cada dia que passava
Zé ficava viciado
De bulinar a jumenta
Todo dia no roçado
E a mulher, Benedita,
Ia ficando  de lado.

Benedita, velha esperta
Começou desconfiar
Seu marido diferente
Não vinha  lhe ‘procurar’
Cuidava mais da jumenta
Pois  era de se invejar.

7

Até aqui Zé namorava
Só quando ia pra o roçado.
A paixão só aumentando
E ele já preocupado,
Não fazia nada em casa
Com medo de ser pegado.

Um dia Zé planejou
Com a jumenta transar.
A vontade foi mais forte
Que veio lhe dominar.
Deixou a mulher dormir
E a noite silenciar.

Zé deitou em sua cama
E ouviu a mulher roncar.
Devagar se  levantou
E foi logo namorar
Agarrando a jumentinha
Que não saiu do lugar.

Zé tirou sua cueca
E no arame pendurou,
Pegou a jumenta por traz
E seu corpo reclinou
Alisava  a sua amante
E a ela se declarou.

8

 Agarrou sua jumenta
Numa transa sem igual
Ele abraçava e beijava
Ali dentro do curral
Não temendo a ninguém
Naquela diversão brutal.

Benedita se acordou
E viu seu lado vazio.
Levantou-se meio tonta
Sentindo um pouco de frio
Dirige-se pra a cozinha
Com um pensamento sóbrio.

Quando chegou  na cozinha
Ela escutou um gemido
Que lhe chamou a atenção,
Pensando em Zé ter caído.
Ela sente um pavor
Como nunca tinha tido.

Viu que a porta dos fundos
Estava aberta e escorada
E no silêncio da noite
Aumentou a barulhada
E quando ela abriu a porta
Enxergou uma presepada.

9

O seu marido empolgado
Agarrado com a jumenta
Chamando de meu amor
Ela vê e não se aguenta
Deu um grito de tristeza
E ao ver aquilo  lamenta.

Quando Zé ouviu os  gritos
Pasmo não pode correr
Pois estava nu com jumenta
Não sabia o que fazer
E a mulher gritava muito
Que dava pena se ver.

Acordou a vizinhança
Que vieram observar
Pensando que era ladrão
Pronto para lhe ajudar,
Depara-se com uma cena
Que é bom nem comentar.

Zé saiu desconfiado
Correu pra casa e entrou
A mulher chorava tanto
Da vergonha que passou,
E ‘esculhambou’ seu marido
Que calado ali ficou.

10

 A mulher indignada
Ao ver a cena nojenta
E a dor de ser trocada
Por uma simples jumenta.
Já passaram cinco anos
E a mulher inda lamenta.

Benedita disse a Zé
─ Você tem que escolher
Entre mim  e a tal jumenta
Vamos logo resolver
A vida acabou-se pra mim
Já não tenho mais  prazer.

Ele falou pra mulher:
─Com a jumenta vou ficar
Vou-me embora desta casa,
Não vou mais aqui morar.
Vou viver no meu roçado
E da jumenta cuidar.

Fez um ranchinho de palha
E atrás um curralinho
Pra cuidar de sua “amada”
E lhe dar todo carinho,
Todo dia de manha
Ele beija seu focinho.

11

A mulher vendeu a casa
E ajuntou todo dinheiro.
Foi morar com uma filha
Lá no Rio de Janeiro
Pra esquecer a vergonha
Do marido ‘jumenteiro’.

Já passaram cinco anos
Que este fato aconteceu
Na cidade do Ingá
Ninguém ainda esqueceu
E Zé vive c’a jumenta
E ainda não lhe vendeu.

Lá na beira da estrada
Fica um ranchinho encravado,
É lá onde mora Zé
Com a jumenta de lado,
Todo mundo o desprezou,
Mas ele se sente amado.

Este fato que narrei
É escabroso e imundo
Se é verdade ou mentira
Vá e pergunte a Raimundo
Ele vai te confirmar
O ato daquele imundo.


12