Já contei muitas histórias
De alegria e de dor.
Falei de adversidade,
De tristeza, de terror,
Mas agora vou falar
De um ato de amor.
Neste momento sublime,
Peço a Deus inspiração,
Qu’ele possa me ajudar
Pra descrever uma ação
Que um certo filho fez
Nas quebradas do sertão.
Eu um lugar do sertão
Residia um menino
Com uma enorme cicatriz
Que marcou o seu destino.
Chamava à atenção de todos
Mas trazia um bom ensino.
Ele era conhecido
Como Mané de Vicente.
Era um menino alegre
Sempre estava sorridente
E quem precisava dele
Ali estava contente.
Na face de Mané tinha
Uma cicatriz danada
Era grande e muito feia
Que a deixava deformada
Quem olhava para ele
Via a pele queimada.
Os colegas do colégio
Começaram lhe olhar,
Mas c’um olhar diferente
Querendo lhe desprezar
Não sentava perto dele
Pra não se comunicar.
Colegas de sua sala
Procuraram a direção
Pra expulsá-lo da escola
Sem nenhuma explicação,
Porém o diretor falou:
– Posso fazer isso não!
Mas ali foi decidido
El’era o último a entrar
E o primeiro a sair
Pra ninguém lhe contemplar,
Ninguém via o rosto dele
Só quisesse olhar.
Como Mané era humilde
Aceitou a imposição
Mas falou ao diretor:
– Tenho uma condição!
Vou à frente contar tudo
E acabo co’essa pressão.
Todos ali concordaram
E ele com toda firmeza
Foi à frente dos colegas
Com um olhar de tristeza
Contar o que aconteceu
Pra tanta indelicadeza.
– Vocês têm toda razão,
A cicatriz é muito feia!
Também fico preocupado
Porque ela me enfeia.
Eu tenho sofrido mais
Que bandido na cadeia.
–Minha mãe era tão pobre
E tinha que trabalhar
Pra que tivesse comida
Tinha que lavar e passar.
Eu cuidei de meus irmãos
Para não atrapalhar.
–Eu tinha então oito anos,
Não sei como aconteceu
Minha casinha de taipa
Em fogo se acendeu
Com meus irmãozinhos dentro,
Meu coração se moveu.
Nesse momento na turma
Era um silêncio danado.
Mané narrando os fatos
E o diretor de lado;
Todos estavam atentos
E Mané admirado.
– Além de mim
havia ali
Três irmãozinhos
sofridos
Quando a casa
pegou fogo
Foram grandes alaridos.
Minha mãe entrou
nas chamas
Pelos seus
filhos queridos.
–Minha mãe
entrou nas chamas
E seu filhinho salvou
Ele tinha só dois anos
E no seu colo o colocou
E entrou em desespero,
Pois outro ali deixou.
–Eu entrei no
outro quarto,
Peguei logo
outro irmão,
E minha mãe com
carinho
Segurava em
minha mão,
Trouxe-nos
rápido pra fora
Foi grande a aflição.
–Minha mãe
desesperada;
O fogo mais
aumentava;
O fumaceiro
cobria.
A chama só
aumentava,
Mas minha
irmãzinha nova
Dentro da casa
estava.
–Mamãe me sentou
no chão
Distante um
pouco da casa
Olhando meus
irmãozinhos
E a casa virando
brasa
E ela com
rapidez
Volta logo e não
se atrasa.
–Ela tentou
entrar na casa,
Mas não podia
entrar.
As chamas
estavam altas
E gente a
atrapalhar.
Foi daí que eu
corri
Para minha irmã
salvar.
–A vizinhança impedia
Dela salvar
minha irmã
Podia morrer as
duas
Falava uma anciã
Ela chorando e
gritando
Como uma pessoa
vã.
–Minha filhinha
querida
Entre as chamas
estar!
Irei salvar sua
vida
E tudo bem vai
ficar,
Não a deixarei morrer
Sua vida vou salvar.
– Vendo ela
muito aflita
Peguei meu irmão
mais novo,
Pus no colo do
mais velho
E escondi entre
o povo
Entrei dentro da
casinha
Pois sou fraco e
me comovo.
– Fui direto
onde estava
Minha irmãzinha
querida
Enrolada num
lençol
Querendo paz e
guarida,
Gritava e
chorava muito
Valorizando a
vida.
– Corri pra lhe
proteger
Quando vi que
ali caia
Algo que lhe
machucava
E sua vida
tiraria
Joguei-me em
cima dela
E sua vida
salvaria.
–A coisa que
caia quente
No meu rosto
encostou
Por mais que eu
fosse rápido
O fogo a mim
queimou
Salvei minha
irmãzinha
Mas a cicatriz
ficou.
Nesse momento na
classe
Houve um
silêncio danado
Quem o humilhou
ali
Estava
envergonhado
Todos ficaram
surpresos
Pelo fato bem
narrado.
Mané falou pra
os colegas:
– Essa cicatriz
e feia
Ela não me
incomoda
Nem o desprezo
chateia
A minha irmã acha bela
E minha face afagueia.
– Vocês podem
recusar-me
Mas minha
família não!
Ela é marca de
amor
E de uma boa
ação.
Minha irmã a
valoriza
E a beija com
emoção.
Muitos alunos
choraram
Sem saber o que
dizer
Trataram com
preconceito
E não podiam
desfazer
Ficaram
envergonhados
Querendo se
esconder.
Quando Mané
terminou
Sentou-se atrás
novamente,
Pois era um
menino humilde
Pobrezinho e
carente,
Mas no ato de
amor
Fazia inveja à
gente.
Falando em cicatrizes,
Em ferida e em
amor,
Lembrei-me de
Jesus Cristo
Que me deu
real valor.
Suas mãos foram
feridas
Resgatando
muitas vidas
Por isso é Nosso
Senhor.
© Pádua Gomes
Gorrión
Poeta de
Itatuba-PB
10/2015