Cansei de
assistir jornais
Fui me
deitar tristemente
Pensando
em tudo que vi
Adormeci
lentamente
E sonhei
que estava
Em um
planeta diferente.
Era um
planeta coberto
De plantas
de várias cores
Os riachos
orquestrados
Por
sapinhos cantadores
E os
colibris bailando
Sugando o
néctar das flores.
Búfalos,
também elefantes
Lobos,
cordeiros pastando
Girafas,
gazelas e alces
Pelo campo
saltitando
E na linha
do Equador
Os
dinossauros passando.
Fiquei
olhando encantada
Depois sai
caminhando
Seguindo a
margem de um rio
Com os
peixes conversando
As flores
exalando o cheiro
E as
florestas cantando.
Em seguida
vi uma cena
Que tocou
meu coração
Uns
garotos dentro d’água
Salvando
um tubarão
Que tinha
ficado preso
Nas pedras
do ribeirão.
Tiraram o
bicho pra fora
Todos eles
bem contentes
Um deles
passou a mão
No bicho
suavemente
E depois o
colocaram
Dentro
d’água novamente.
Depois eu
parei e vi
Perto de
uma pedreira
Cinco
homens construindo
De pedra
uma cadeira
Eu
perguntei a um deles:
“Por que
não faz de madeira?”
Falaram em
uma só voz:
“Destruir
uma árvore bela?
Pra fazer
uma cadeira
Somente
pra sentar nela.
É mais
sensato ficarmos
Sentados
na sombra dela”.
Com esta
simples resposta
Eu logo me
envergonhei
Pra
disfarçar a vergonha
Numa pedra
eu me sentei
“Aonde
fica a cidade?”
Aos
senhores perguntei.
Responderam:
“siga a trilha
Com nome
de liberdade
Ao lado
tem uma placa
Que indica
felicidade
Vá
seguindo toda a seta
Que
chegará na cidade”.
Quando eu
cheguei à estrada
Comecei a
caminhar
No meu
ombro um passarinho
Começou
logo a cantar
No mesmo
instante senti
A paz que
estava no ar.
Na minha
frente voou
Lá um
outro passarinho
Ia na
frente e voltava
Cantarolando
baixinho
Como quem
dizia: “venha,
Eu lhe
ensino o caminho.”
Quando
cheguei na cidade
Parei em
frente a um galpão
Com muros
todo de pedra
Na frente
um grande portão
Em cima
tinha um letreiro
Hospital
do Coração.
Olhei para
o lado esquerdo
Tinha um
cartaz estupendo
Em cada
canto uma lâmpada
Apagando e
acendendo
Com o
fundo cor de prata
Com as
letras góticas dizendo:
“Aqui se
encontra internado
Quem sofre
de ingratidão,
De egoísmo
e inveja
Ódio,
rocio e ambição
Cobiça e
outros males
Que
envenena o coração”.
Eu olhei
pra o outro lado
Um senhor
‘tava’ me olhando
Lindo
sorriso nos lábios
Seus olhos
‘tava’ brilhando
Botou a
mão no meu ombro
E saímos
conversando.
Dizia ao
meu ouvido:
“Pode
ficar à vontade!
Vamos
caminhar comigo
Pelas ruas
da cidade
E conhecer
bem de perto
A nossa
felicidade”.
Eu olhava
bem as coisas
Branca da
cor de marfim
Portas,
janelas de vidros
Com
cortinas de cetim
Todo
quintal uma horta
Toda
calçada um jardim.
Quando
chegamos à praça
Parei e
passei a mão
Numa
estatueta de ouro
Parecia
com Sansão
Em vez de
espingarda
Era uma
enxada na mão.
Eu
perguntei ao amigo:
“É de um
parlamentar”?
Ele então
respondeu:
Com um
sorriso no olhar
“É de um
agricultor
O nosso
herói popular”.
Eu
perguntei: “E a outra
Que está
de frente erguida,
A do
pedestal de bronze
Elegante e
bem vestida”!
Respondeu:
“foi quem criou
A
matemática da vida”.
“Pois
tirou multiplicar,
Somar e
subtrair
Deixou
nossa matemática
Somente
com o dividir
Ensinando
o cidadão
Aprender a
repartir”.
Naquele
instante avistei
Na sombra
de uma parreira
Dois
garotos consertando
Uma velha
forrageira
E outro
mais afastado
Limpando
uma talhadeira.
Eu
perguntei ao senhor
Sem querer
o aborrecer
O que eles
estão fazendo
Por favor
posso saber?
Respondeu:
“estão brincando
De brincar
de aprender”
“As
crianças aqui brincam
Com
paquímetro de aço puro
Esquadra,
régua, compaço
Martelo de
ferro duro
São
brinquedos de infância
Ganha o
pão do seu futuro.
Quando
saímos da praça
Ví um pé
de buriti
Uma linda
águia azul
Ao lado de
um bem-te-vi
Eu
perguntei onde fica
O
zoológico daqui?
Respondeu:
“não temos jaulas,
Nem gaiola
na cidade
Porque
nossos animais
Convivem
com liberdade
Para nós é
mais barato
Criá-lo
fora da grade”.
Eu falei:
“no meu planeta
Se um
pássaro cantar bem
Vai morrer
atrás das grades
Sem ter
matado ninguém
E cantar
pra seus algozes
A troca
d’água e xerém.
O meu
planeta Senhor
Do seu é
bem diferente
No meu o
pai vai ao shopping
Leva o
filho inocente
Compra
armas de brinquedo
E dá a ele
de presente.
Já aqui
nesse planeta
O
agricultor tem nome
No planeta
onde eu moro
Esse pobre
passa fome
Lavra a
terra, planta e colhe
E muitas
vezes nem come.
Infeliz do
jacaré
Que o
homem mata pra comer
Além de
comer sua carne
A sua pele
é pra vender
Pra fazer
sapato de couro
E não
deixa o bicho viver.
As águas
dos nossos mares
De suja
muda de cor
Ele disse:
“espere, pare!
Não fale
mais por favor!
Mim diga
somente o nome
Do planeta
do Senhor...
Eu disse:
“sou de um planeta
Que só
vive em pé de guerra
São
fabricadas doenças
Onde a
justiça mais erra
Uma gaiola
de loucos
Seu nome é
planeta Terra”.
Os olhos
daquele homem
Arregalou para
a luz
E
perguntou: “é verdade
Que lá
fizeram uma cruz
Pra
crucificar um santo
Conhecido
por Jesus”?
Quis falar
isso é verdade
Nós
matamos nosso rei
Pra falar
abri a boca
Faltou voz
eu não falei
Quis
correr não tive forças
Faltou
fôlego, eu acordei.
Acordei
para chorar
Debruçado
em meu leito
Daquele
dia pra cá
Nunca mais
dormi direito
Na
esperança de ver
Meu
planeta desse jeito.
Poema da professora Lita Bezerra-Itatuba-PB