terça-feira, 7 de abril de 2015

UM PLANETA DIFERENTE



Cansei de assistir jornais
Fui me deitar tristemente
Pensando em tudo que vi
Adormeci lentamente
E sonhei que estava
Em um planeta diferente.

Era um planeta coberto
De plantas de várias cores
Os riachos orquestrados
Por sapinhos cantadores
E os colibris bailando
Sugando o néctar das flores.

Búfalos, também elefantes
Lobos, cordeiros pastando
Girafas, gazelas e alces
Pelo campo saltitando
E na linha do Equador
Os dinossauros passando.

Fiquei olhando encantada
Depois sai caminhando
Seguindo a margem de um rio
Com os peixes conversando
As flores exalando o cheiro
E as florestas cantando.

Em seguida vi uma cena
Que tocou meu coração
Uns garotos dentro d’água
Salvando um tubarão
Que tinha ficado preso
Nas pedras do ribeirão.

Tiraram o bicho pra fora
Todos eles bem contentes
Um deles passou a mão
No bicho suavemente
E depois o colocaram
Dentro d’água novamente.

Depois eu parei e vi
Perto de uma pedreira
Cinco homens construindo
De pedra uma cadeira
Eu perguntei a um deles:
“Por que não faz de madeira?”

Falaram em uma só voz:
“Destruir uma árvore bela?
Pra fazer uma cadeira
Somente pra sentar nela.
É mais sensato ficarmos
Sentados na sombra dela”.

Com esta simples resposta
Eu logo me envergonhei
Pra disfarçar a vergonha
Numa pedra eu me sentei
“Aonde fica a cidade?”
Aos senhores perguntei.

Responderam: “siga a trilha
Com nome de liberdade
Ao lado tem uma placa
Que indica felicidade
Vá seguindo toda a seta
Que chegará na  cidade”.

Quando eu cheguei à estrada
Comecei a caminhar
No meu ombro um passarinho
Começou logo a cantar
No mesmo instante senti
A paz que estava no ar.

Na minha frente voou
Lá um outro passarinho
Ia na frente e voltava
Cantarolando baixinho
Como quem dizia: “venha,
Eu lhe ensino o caminho.”

Quando cheguei na cidade
Parei em frente a um galpão
Com muros todo de pedra
Na frente um grande portão
Em cima tinha um letreiro
Hospital do Coração.

Olhei para o lado esquerdo
Tinha um cartaz estupendo
Em cada canto uma lâmpada
Apagando e acendendo
Com o fundo cor de prata
Com as letras góticas dizendo:

“Aqui se encontra internado
Quem sofre de ingratidão,
De egoísmo e inveja
Ódio, rocio e ambição
Cobiça e outros males
Que envenena o coração”.

Eu olhei pra o outro lado
Um senhor ‘tava’ me olhando
Lindo sorriso nos lábios
Seus olhos ‘tava’ brilhando
Botou a mão no meu ombro
E saímos conversando.

Dizia ao meu ouvido:
“Pode ficar à vontade!
Vamos caminhar comigo
Pelas ruas da cidade
E conhecer bem de perto
A nossa felicidade”.

Eu olhava bem as coisas
Branca da cor de marfim
Portas, janelas de vidros
Com cortinas de cetim
Todo quintal uma horta
Toda calçada um jardim.

Quando chegamos à praça
Parei e passei a mão
Numa estatueta de ouro
Parecia com Sansão
Em vez de espingarda
Era uma enxada na mão.

Eu perguntei ao amigo:
“É de um parlamentar”?
Ele então respondeu:
Com um sorriso no olhar
“É de um agricultor
O nosso herói popular”.

Eu perguntei: “E a outra
Que está de frente erguida,
A do pedestal de bronze
Elegante e bem vestida”!
Respondeu: “foi quem criou
A matemática da vida”.

“Pois tirou multiplicar,
Somar e subtrair
Deixou nossa matemática
Somente com o dividir
Ensinando o cidadão
Aprender a repartir”.

Naquele instante avistei
Na sombra de uma parreira
Dois garotos consertando
Uma velha forrageira
E outro mais afastado
Limpando uma talhadeira.

Eu perguntei ao senhor
Sem querer o aborrecer
O que eles estão fazendo
Por favor posso saber?
Respondeu: “estão brincando
De brincar de aprender”

“As crianças aqui brincam
Com paquímetro de aço puro
Esquadra, régua, compaço
Martelo de ferro duro
São brinquedos de infância
Ganha o pão do seu futuro.

Quando saímos da praça
Ví um pé de buriti
Uma linda águia azul
Ao lado de um bem-te-vi
Eu perguntei onde fica
O zoológico daqui?

Respondeu: “não temos jaulas,
Nem gaiola na cidade
Porque nossos animais
Convivem com liberdade
Para nós é mais barato
Criá-lo fora da grade”.

Eu falei: “no meu planeta
Se um pássaro cantar bem
Vai morrer atrás das grades
Sem ter matado ninguém
E cantar pra seus algozes
A troca d’água e xerém.

O meu planeta Senhor
Do seu é bem diferente
No meu o pai vai ao shopping
Leva o filho inocente
Compra armas de brinquedo
E dá a ele de presente.

Já aqui nesse planeta
O agricultor tem nome
No planeta onde eu moro
Esse pobre passa fome
Lavra a terra, planta e colhe
E muitas vezes nem come.

Infeliz do jacaré
Que o homem mata pra comer
Além de comer sua carne
A sua pele é pra vender
Pra fazer sapato de couro
E não deixa o bicho viver.

As águas dos nossos mares
De suja muda de cor
Ele disse: “espere, pare!
Não fale mais por favor!
Mim diga somente o nome
Do planeta do Senhor...

Eu disse: “sou de um planeta
Que só vive em pé de guerra
São fabricadas doenças
Onde a justiça mais erra
Uma gaiola de loucos
Seu nome é planeta Terra”.

Os olhos daquele homem
Arregalou para a luz
E perguntou: “é verdade
Que lá fizeram uma cruz
Pra crucificar um santo
Conhecido por Jesus”?

Quis falar isso é verdade
Nós matamos nosso rei
Pra falar abri a boca
Faltou voz eu não falei
Quis correr não tive forças
Faltou fôlego, eu acordei.

Acordei para chorar
Debruçado em meu leito
Daquele dia pra cá
Nunca mais dormi direito
Na esperança de ver
Meu planeta desse jeito.

Poema da professora Lita Bezerra-Itatuba-PB





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