sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Caveira cantante

Neste mundo de meu Deus
Nada pode se esconder,
Pois não há crime perfeito
Para não se esclarecer,
Mesmo que ninguém não veja
Saiba que Deus tudo ver.

Peço a Deus neste momento,
Um pouco de inspiração
Pra relatar este caso
Que eu escutei no sertão.
Quando lembro, me arrepio
E abala meu coração.

Confesso que tive medo,
Mas com coragem gigante,
E na presença de Deus
Senti-me forte e confiante
Para contar a estória
De uma caveira cantante.

Um caboclo sertanejo
Foi quem tudo me contou.
O meu cérebro bom de prosa
No momento registrou,
E agora conto a vocês
Do jeito que se passou.

1

Disse aquele sertanejo
Que a pouco lhe conheci
Que num reino muito longe
Um bicho mandava ali,
Causava grande terror:
Era um grande javali.

Esse gigante animal
Destruía plantações
Afastava os moradores
E seus nobres das mansões
E as pessoas buscavam
Do monarca as soluções.

O rei Artur muito triste
Sem saber o que fazer
Ofereceu sua filha
Bonita que dar prazer,
Para quem matasse o monstro
E o levasse pra ele ver.

Teresa era filha única
Moça bela e bem tratada
Vivia naquele reino,
Porém nunca foi beijada,
Mas pela morte do bicho
Ela iria ser trocada.

2

Dois irmãos da redondeza
Logo se prontificaram
De executar o serviço
E ao monarca avisaram.
Diante daquele caso
Coragem,eles demonstraram.

O mais novo dos irmãos
Mostrava capacidade
E nunca fora orgulhoso
E nem guardava maldade.
Era um sujeito honesto
Que só falava a verdade.

O nome deste rapaz era
Era Pedro Celestino.
Corajoso e destemido
Desde quando era menino.
Quem conhecia o rapaz
Sabia do seu destino.

Já o outro seu irmão
Demonstrava uma frieza.
Chamava-se Sebastião
E aparentava esperteza,
Mas diferente do  irmão,
Pois faltava gentileza.

3

Os irmãos se dividiram
Para o bicho capturar
E por caminhos contrários
Começaram caminhar.
Adentraram na floresta
Depressa sem embromar.

Na busca pela floresta
Pedro, o mais novo encontrou
Um pequenino gnomo
Que ao ver se emocionou
Sem temer ao anãozinho
Pra junto dele marchou.

E logo o tal anãozinho
Sentiu no seu coração
Que Pedro era um homem bom
E que não tinha ambição,
E deu-lhe uma lança mágica
Para difícil missão.

Ele ficou tão contente
Que quase não sai dali.
Sentiu-se com mais coragem
Logo começou a ri
Pensando matar ligeiro
O gigante javali.

4-1

Aquele jovem ditoso
Encontrou o animal
Que causava tanto medo
E fazia tanto mal.
Jogou a lança no bicho
Que tombou no matagal.

A flechada foi certeira
Porque foi dada com artes
E Pedro exibia o bicho
Como se fosse estandartes
E o coração do animal
Dividiu-se em várias partes.

Ao voltar para o castelo
Carregando o bicho morto,
Encontrou com seu irmão
Que sentia desconforto,
Bebendo em uma taberna
Com olhar pra ele torto.

Sebastião com inveja
Ao ver que o irmão venceu
O difícil desafio,
Com isso entristeceu.
Fingindo comemorar
Vinho a ele, ofereceu.

4-2

Dizia pra seu irmão:
- Nós vamos comemorar
O desafio vencido
E pediu pra lhe abraçar,
Mas sabendo que o irmão
Ia logo se acabar.

Assim que Pedro bebeu,
Embriagado ficou,
Perdeu noção e o sentido
E na estrada tombou
E seu irmão com maldade
De repente o assassinou.

Depois que matou o irmão
Escondeu detrás de um monte
Para ninguém perceber
Lavou as mãos numa fonte,
Enterrando seu irmão
Bem debaixo de uma ponte.

Depressa foi pra o castelo
E quando adentrou ali,
Procurou pelo monarca
Que começou a sorri
Quando viu naquela hora
O temido javali.

5-1

Sebastião cobiçoso
Foi exigindo do rei
A mão da princesa em troca
E que ele cumprisse a lei.
Dizia pra todo povo:
- O javali eu matei!

E disse ainda pra o rei:
-Meu irmão Pedro morreu!
Foi cortado em pedacinhos;
A fera lhe dissolveu.
O rei baixou a cabeça
E triste lhe agradeceu.

A princesa se casou
Pra sua infelicidade
Com Sebastião assassino,
Um homem sem piedade.
Viveram momentos bons
Até chegar a verdade.

Tudo caminhava bem
Ninguém no caso tacou,
Até que um dia um pastor
Uma caveira encontrou
Lá debaixo de uma ponte
E este fato lhe intrigou.

5-2

O pastor pegou um osso
Para um berrante fazer,
Serviu de material,
Mas sem de nada saber
Que era de um inocente
Que viera fenecer.

E aquele ossinho serviu
Pra o berrante incrementar,
Que serviria ao pastor
Para seu gado chamar.
Sem saber que um mistério
Rodopiava no ar.

O osso que ele pegou
Era de um homem inocente
Que padeceu com a morte,
Morrendo feito indigente
Pelas mãos de seu irmão,
Um sujeito prepotente.

Terminado seu berrante
O pastor logo tocou
E uma música sombria,
Todo reinado escutou.
De modo que até o rei
Ao ouvir se incomodou.

6

A canção que se escutava
Assuntava o assassinato
E todo povo que ouvia
Recordava aquele fato.
Que o irmão até pensava
Que estava no anonimato.

O pastor ficou com medo
E também muito assustado.
Pegou seu belo instrumento
E partiu para o reinado,
E contou para o monarca
Que também ficou chocado.

O monarca ao escutar
Aquele triste alarido
Que saia do berrante
Compreendeu o acontecido.
Foi à ponte e desterrou
O irmão que fora traído.

Com o caso revelado
O príncipe Sebastião
Foi convidado ao castelo
Para uma reunião
Sem saber que recebia
A mais dura punição.

7

O rei daquele reinado
Foi bem corajoso e forte
Condenando o próprio genro
Que não teve muita sorte.
E o que fez com seu irmão
Ele pagou com a morte.

O rei mandou os soldados
Aquele moço amarrar
E que tivessem cuidado
Para ele não se soltar
E o pusessem em um saco
Para sacudir no mar.

O pobre de Sebastião
Colheu ali seu destino.
Por matar um inocente
Bravo homem campesino,
E assim foi vingada a morte
Do irmão Pedro Celestino.

Agora, caro leitor,
Este conto, a ti oferto
Tire suas conclusões
Procure ser mais esperto
Mas saiba que neste mundo
Que nada fica encoberto.

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