quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A CICATRIZ DO AMOR


Já contei muitas histórias
De alegria e de dor.
Falei de adversidade,
De tristeza, de terror,
Mas agora vou falar
De um ato de amor.
               
Neste momento sublime,
Peço a Deus inspiração,
Qu’ele possa me ajudar
Pra descrever uma ação
Que um certo filho fez
Nas quebradas do sertão.

Eu um lugar do sertão
Residia um menino
Com uma enorme cicatriz
Que marcou o seu destino.
Chamava à atenção de todos
Mas trazia um bom ensino.

Ele era conhecido
Como Mané de Vicente.
Era um menino alegre
Sempre estava sorridente
E quem precisava dele
Ali estava contente.

Na face de Mané tinha
Uma cicatriz danada
Era grande e muito feia
Que a deixava deformada
Quem olhava para ele
Via a pele queimada.

Os colegas do colégio
Começaram lhe olhar,
Mas c’um olhar diferente
Querendo lhe desprezar
Não sentava perto dele
Pra não se comunicar.

Colegas de sua sala
Procuraram a direção
Pra expulsá-lo da escola
Sem nenhuma explicação,
Porém o diretor falou:
Posso fazer isso não!

Mas ali foi decidido
El’era o último a entrar
E o primeiro a sair
Pra ninguém lhe contemplar,
Ninguém via o rosto dele
Só quisesse olhar.

Como Mané era humilde
Aceitou a imposição
Mas falou ao diretor:
Tenho uma condição!
Vou à frente contar tudo
E acabo co’essa pressão.

Todos ali concordaram
E ele com toda firmeza
Foi à frente dos colegas
Com um olhar de tristeza
Contar o que aconteceu
Pra tanta indelicadeza.

Vocês têm toda razão,
A cicatriz é muito feia!
Também fico preocupado
Porque ela me enfeia.
Eu tenho sofrido mais
Que bandido na cadeia.

Minha mãe era tão pobre
E tinha que trabalhar
Pra que tivesse comida
Tinha que lavar e passar.
Eu cuidei de meus irmãos
Para não atrapalhar.

Eu tinha então oito anos,
Não sei como aconteceu
Minha casinha de taipa
Em fogo se acendeu
Com meus irmãozinhos dentro,
Meu coração se moveu.

Nesse momento na turma
Era um silêncio danado.
Mané narrando os fatos
E o diretor de lado;
Todos estavam atentos
E Mané admirado.

– Além de mim havia ali
Três irmãozinhos sofridos
Quando a casa pegou fogo
Foram grandes  alaridos.
Minha mãe entrou nas chamas
Pelos seus filhos queridos.

–Minha mãe entrou nas chamas
E seu filhinho salvou
Ele tinha só dois anos
E no seu colo o colocou
E entrou em desespero,
Pois outro ali deixou.

–Eu entrei no outro quarto,
Peguei logo outro irmão,
E minha mãe com carinho
Segurava em minha mão,
Trouxe-nos rápido pra fora
Foi grande a aflição.

–Minha mãe desesperada;
O fogo mais aumentava;
O fumaceiro cobria.
A chama só aumentava,
Mas minha irmãzinha nova
Dentro da casa estava.

–Mamãe me sentou no chão
Distante um pouco da casa
Olhando meus irmãozinhos
E a casa virando brasa
E ela com rapidez
Volta logo e não se atrasa.

–Ela tentou entrar na casa,
Mas não podia entrar.
As chamas estavam altas
E gente a atrapalhar.
Foi daí que eu corri
Para minha irmã salvar.

–A vizinhança  impedia
Dela salvar minha irmã
Podia morrer as duas
Falava uma anciã
Ela chorando e gritando
Como uma pessoa vã.

–Minha filhinha querida
Entre as chamas estar!
Irei salvar sua vida
E tudo bem vai ficar,
Não a deixarei  morrer
Sua vida vou salvar.

– Vendo ela muito aflita
Peguei meu irmão mais novo,
Pus no colo do mais velho
E escondi entre o povo
Entrei dentro da casinha
Pois sou fraco e me comovo.

– Fui direto onde estava
Minha irmãzinha querida
Enrolada num lençol
Querendo paz e guarida,
Gritava e chorava muito
Valorizando a vida.

– Corri pra lhe proteger
Quando vi que ali caia
Algo que lhe machucava
E sua vida tiraria
Joguei-me em cima dela
E sua vida salvaria.

–A coisa que caia quente
No meu rosto encostou
Por mais que eu fosse rápido
O fogo a mim queimou
Salvei minha irmãzinha
Mas a cicatriz ficou.

Nesse momento na classe
Houve um silêncio danado
Quem o humilhou ali
Estava envergonhado
Todos ficaram surpresos
Pelo fato bem narrado.

Mané falou pra os colegas:
– Essa cicatriz e feia
Ela não me incomoda
Nem o desprezo chateia
A minha irmã  acha bela
E  minha face afagueia.

– Vocês podem recusar-me
Mas minha família não!
Ela é marca de amor
E de uma boa ação.
Minha irmã a valoriza
E a beija com emoção.

Muitos alunos choraram
Sem saber o que dizer
Trataram com preconceito
E não podiam desfazer
Ficaram envergonhados
Querendo se esconder.

Quando Mané terminou
Sentou-se atrás novamente,
Pois era um menino humilde
Pobrezinho e carente,
Mas no ato de amor
Fazia inveja à gente.

Falando em cicatrizes,
Em ferida e em amor,
Lembrei-me de Jesus Cristo
Que me deu real  valor.
Suas mãos foram feridas
Resgatando muitas vidas
Por isso é Nosso Senhor.

© Pádua Gomes Gorrión
Poeta de Itatuba-PB
10/2015





quinta-feira, 8 de outubro de 2015

SOU MATUTO NORDESTINO NUNCA IREI ME ENVERGONHAR



Sou nordestino e não nego
Nossa terra tem cultura
Que está a nossa altura
Que chega a encher meu ego
Eu cultivo e muito rego
Pra ela não se  acabar
Que´la venha mais brilhar
E o preconceito elimino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.        


Como posso ter vergonha
De Luiz rei do baião
De Padre Cíço Romão
Da canjica e da pamonha
De uma  ‘caboca’ risonha
No seu lindo cirandar
Nossa cultura popular
Tem mais um sabor divino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.     


Jackson do padeiro é nosso
E Patativa do Assaré                
São Francisco em Canidé
Jorge Amado eu endosso
Esquecê-lo eu não posso
De José de Alencar
Conhecido em além-mar
Suas obras eu assino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.     


Nós temos a vaquejada,
Xote, forró e baião
Maracatu e leilão
Queijo de coalho e buchada
Feijão verde, maxixada
A  pedra de amolar
Uma noite de luar
No chiqueiro um suíno
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.     


No Nordeste tem quadrilha
Cantoria de viola
Tem tareco e mariola
Violeiro que dedilha
Poeta que lê sextilha
Para o povo escutar
Tem umbu pra nós chupar
O forró é genuíno
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.     


Nosso herói é Lampião
E não esqueço Ariano
Que já foi pra outro plano
Com Catulo da Paixão
Nossa festa é o São João
Podemos nos orgulhar
Tem forró pra nos dançar
Do mais  pobre ao granfino
Sou matuto nordestino
 Nunca irei me envergonhar.
7
Luiz da Câmara Cascudo
O vate Pinto de Monteiro
Nosso Jackson do pandeiro
Que cantou sem ter estudo
Pai de chiqueiro barbudo
Que vive a bodejar
Moça velha a sonhar
Querend’um novo destino
Sou matuto nordestino
 Nunca irei me envergonhar.


O  pífano  de Caruaru
O repente de Batista
O poeta cordelista
A dança do maracatu
Nosso artista de Exu
Que’u  vivo de recordar
Ele sempre vai reinar
Como o mestre Vitalino
Sou matuto nordestino
 Nunca irei me envergonhar.


Eu curto a capoeira;
O forro de Dominguinhos;
Facheiro com seus espinhos;
E o poeta Zé Limeira
Louro Branco e Oliveira
Com seu belo linguajar
Vale à pena escutar
Sua canção é um hino
Sou matuto nordestino
 Nunca irei me envergonhar.


Cantoria de repente
Emboladores na feira
Charque assada e macaxeira
Um aboiador valente
Vaqueiro bebe aguardente
E depois vai aboiar
Como é bom escutar
Nosso Jessier Quirino
Sou matuto nordestino
 Nunca irei me envergonhar.


Aprecio o carnaval
Nossas festas genuínas
É só ver as festas juninas
E o nosso litoral
Nossa cultura é colossal
Podemos nos orgulhar
Os outros vêm nos visitar
O Nordeste é seu destino
Sou matuto nordestino
 Nunca irei me envergonhar.


Sou nordestino da gema
Somos muito importantes
Estamos sempre avantes
Nossa cultura é suprema
Termino esse poema
Pra o povo apreciar
E o nordeste valorar
Que me respeito o sulino
Sou matuto nordestino

 Nunca irei me envergonhar.