domingo, 27 de setembro de 2015

SOU DA TERRA NORDESTINA


Sou da terra nordestina
Aqui tem frevo e baião
Tem maracatu rural
Tem festa de apartação
Tem festa de vaquejada
E uma gostosa pamonhada
Na fogueira no São João.

Sou da terra nordestina
Sou panha de algodão
Sou juazeiro florido
Sou Padre Ciço Romão
Sou Patativa do Assaré
Sou sertanejo de fé
Sou Luiz rei do baião.

Sou repentista da hora
Sou o sabor da buchada
Sou água de cacimbão
Sou cheiro de carne assada
Sou xiquexique e facheiro
Sou pavio de candeeiro
Sou  o som da embolada.

Sou Ariano Suassuna
Sou Virgulino Lampião
Sou o mestre Vitalino
Sou o mestre Azulão
Sou Otacilio Batista
A rima do cordelista
Sou Catulo da Paixão.

Sou nordestino da cepa
Sou bem-ti-vi cantador
Sou poeta, faço verso
De tristeza e de dor
Canto a dor e o lamento
Canto a saga e o sofrimento
Do vaqueiro aboiador.

Sou da terra nordestina
Sou caboclo sonhador
Sou forró de oito-baixo
Sou vaqueiro aboiador
Sou Asa branca voando
Sou Assum preto chorando
Sou poeta cantador.

Sou nordestino, seu moço!
Posso sim me orgulhar.
Escuto Luiz Gonzaga
Que tocou pra nós dançar.
Rezo com frei Damião
E padre Ciço Romão,
Os meus ídolos do lugar.

Escuto Jackson do Pandeiro,
Danço forró e ciranda.
O forró de Dominguinhos
Ainda é forte pr’esta banda.
As obras de Vitalino;
O repente nordestino
Merece mais propaganda.

Eu curto coco-de-roda,
Xote, forró e baião.
Eu danço Maracatu;
Admiro Lampião.
Escrevo c’os cordelistas
A canção dos repentistas
E as coisas do sertão.

Sou biju, sou tapioca
Feijão-verde com galinhha
Carne seca e maxixada
Amargo feito cabacinha
Sou noite de farinhada
Sou o forró de latada
Sou terreiro de casinha.

Por gostar de poesia
Foi que me tornei poeta
Descrever os sentimentos
De uma maneira discreta
Poesia é meu prazer
E enquanto aqui viver
A arte darei valor
Deus me dará inspiração
Pra eu falar do sertão
Com sua beleza e cor.

Uma cachorra engatada
Um jumento relinchando
Sapo na chuva cantando
Uma velha embriagada
Uma ciranda marcada
Galinha no cacarejo
Um toque de realejo
Um barrão preso que chia
Tudo vira poesia
Na boca do sertanejo.

MOTE: Ari Pinheiro

GLOSA: Pádua Gomes Gorrión

sábado, 19 de setembro de 2015

SE NAMORAR FOR PECADO QUERO MORRER PECADOR



Quem não gosta de mulher
Leva uma vida infeliz
Tem no peito uma cicatriz
E não sabe o que bem quer
Vive triste isto é mister
O seu peito arde em dor
De não sentir o calor
De um dia ser amado
Se namorar for pecado
Quero morrer pecador.

Não existe mal algum
A  gente se apaixonar
D’uma mulher abraçar
E apalpar seu bumbum
Ela ver isso comum
Faça sem medo e pudor
Sinta o cheiro da flor
Durma com ela abraçado
Se namorar for pecado
Quero morrer pecador.

Deus pode me castigar
E me mandar pr’o inferno
Que’u pague um preço eterno
Mas de mulher vou gostar
Quero sempre namorar
Por que sou namorador
Dá a elas meu amor
E dá conta do recado
Se namorar for pecado
Quero morrer pecador.

Por mulher eu já bebi
Por mulher eu já briguei
Pra mulher eu já cantei
Por mulher eu me perdi
Por mulher eu já sumi
Por mulher fui gastador
Pra mulher fui perdedor
Por mulher fui desprezado
Se namorar for pecado
Quero morrer pecador.

Não é pecado olhar
Uma morena que passa
Soltar pra ela uma graça
E admirar seu andar
Só não pode ser vulgar
Trate mulher com dulçor
Seja bom conquistador
Mas não seja amostrado
Se namorar for pecado
Quero morrer pecador.

Mulher gosta de afeto
De dinheiro e de presente
Isso a deixa contente
Se o cara é discreto
Não faça dela objeto
E quando procurá-la for
Faça tudo com amor
Que terás bom resultado
Se namorar for pecado
Quero morrer pecador.

Chamo a mulher de rainha
Trato ela como dama
Mas quando vamos pra cama
Ela é minha gatinha
O que’u quero ela adivinha
E me abraça sem pudor
Seu beijo tem o sabor
Que me deixa animado
Se namorar for pecado
Quero morrer pecador.

Uma mocinha bonita
Olhou para mim sorrindo
E foi logo me pedindo
Deixe eu ser a favorita
O bumbum ela arrebita
E me olhou com ardor
Senti no corpo um tremor
E fiquei arrepiado
Se namorar for pecado
Quero morrer pecador.

Eu tenho uma namorada
Que é louquinha por mim
Ela sempre está afim
E deseja ser beijada
Quando ela é atiçada
Vem pra mim com esplendor
Eu lhe abraço com dulçor
E durmo com ela abraçado
Se namorar for pecado
Quero morrer pecador.

Fui um dia ao lupanar
Encontrei uma morena
Cheirava  igual açucena
Queria comigo ficar
Veio logo me abraçar
Com seu jeito matador
Trouxe um copo de licor
E deixou-me embriagado
Se namorar for pecado
Quero morrer pecador.

Já namorei no escuro
E achei foi bom demais
Eu só escutava os ais
Encostado a um velho muro
Fiz de tudo eu te asseguro
Ela não quis se opor
Eu fui um dominador
E depois fui dominado
Se namorar for pecado
Quero morrer pecador.

Eu quero sempre viver
Nos braços d’uma mulher
Pra fazer o que’u quiser
E viver só de prazer
Sem a ninguém mais temer
Fazer tudo com temor
Se em nós existe amor
O que faço é combinado
Se namorar for pecado
Quero morrer pecador.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

SOU MATUTO NORDESTINO E NUNCA IREI ME ENVERGONHAR

Sou nordestino e não nego
Nossa terra tem cultura
Que está a nossa altura
Que chega a encher meu ego
Eu cultivo e muito rego
Pra ela não se acabar
Que´la venha mais brilhar
E o preconceito elimino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

O jumento lá no campo
Meio dia a relinchar
No cercado a pastar
E o cavalo pirilampo
Esta paisagem estampo
No cordel a versejar
Coisas belas de olhar
Que vejo desde menino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

Jackson do padeiro é nosso
E Patativa do Assaré
São Francisco em Canidé
Jorge Amado eu endosso
Esquecê-lo eu não posso
De José de Alencar
Conhecido em além-mar
Suas obras eu assino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.
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Já plantei muito feijão
Milho e fava também
E não nego pra ninguém
Qual a minha profissão
Sou agricultor então
Amo a terra cultivar
E com o gado lidar
Neste clima campesino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

Como posso ter vergonha
De Luiz rei do baião
De Padre Cíço Romão
Da canjica e da pamonha
De uma  ‘caboca’ risonha
No seu lindo cirandar
Nossa cultura popular
Tem mais um sabor divino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

Piso milho e rapadura
Dentro d'um grande pilão
Misturo bem a porção
Que tem uma grande doçura
Paçoca de cor escura
Gostosa de degustar
Forte pra se alimentar
Seu sabor é muito fino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.
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Nós temos a vaquejada,
Xote, forró e baião
Maracatu e leilão
Queijo de coalho e buchada
Feijão verde, maxixada
A pedra de amolar
Uma noite de luar
No chiqueiro um suíno
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

A cabra bem amarrada
Em baixo do juazeiro
E o cabrito bem ligeiro
Para a primeira mamada
Da a sua disparada
Vai sua mãe procurar
No peito fica a amojar
Aquele bebê caprino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

No Nordeste tem quadrilha
Cantoria de viola
Tem tareco e mariola
Violeiro que dedilha
Poeta que lê sextilha
Para o povo escutar
Tem umbu pra nós chupar
O forró é genuíno
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.
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A palma toda verdinha
Vai servir para a ração
Quando chega a sequidão
Salva a pobre vaquinha
Que urra a tardezinha
Querendo a fome matar
E o vaqueiro a olhar
Tenta salvar o bovino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

Nosso herói é Lampião
E não esqueço Ariano
Que já foi pra outro plano
Com Catulo da Paixão
Nossa festa é o São João
Podemos nos orgulhar
Tem forró pra nos dançar
Do mais  pobre ao granfino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

Quando chega o verão
A seca é tão voraz
A lavoura logo jaz
É triste a sequidão
Murcha toda a plantação
Ninguém pode mais plantar
Longe vai água buscar
Sem saber qual o destino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.
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Luiz da Câmara Cascudo
O vate Pinto de Monteiro
Nosso Jackson do pandeiro
Que cantou sem ter estudo
Pai de chiqueiro barbudo
Que vive a bodejar
Moça velha a sonhar
Querend’um novo destino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

Bebo água do barreira
Como feijão com coalhada
Carne de bode assada
Milho assado no braseiro
E compota de facheiro
Qu’é bom pra saborear
Pois quem sabe preparar
Fica com sabor divino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

O  pífano  de Caruaru
O repente de Batista
O poeta cordelista
A dança do maracatu
Nosso artista de Exu
Que’u  vivo de recordar
Ele sempre vai reinar
Como o mestre Vitalino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.
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O nordeste é tão rico
Onde emana a cultura
Tem muita literatura
Muito encantado eu fico
Minha arte aqui pratico
Vendo o repente aflorar
No ato de improvisar
Onde o pinho mostra o tino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

Eu curto a capoeira;
O forro de Dominguinhos;
Facheiro com seus espinhos;
E o poeta Zé Limeira
Louro Branco e Oliveira
Com seu belo linguajar
Vale à pena escutar
Sua canção é um hino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

Tem o João Paraibano
E o grande Azulão
E  também o Camarão
Que está em outro  plano
Zé Vicente outro mano
Que sempre vamos lembrar
E o seu legado estar
Estampado em seu hino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.
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Cantoria de repente
Emboladores na feira
Charque assada e macaxeira
Um aboiador valente
Vaqueiro bebe aguardente
E depois vai aboiar
Como é bom escutar
Nosso Jessier Quirino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

O Leandro de Pombal
Zabezinha de Monteiro
Oliveira o violeiro
Repentista tão legal
Zé do Couro é genial
Faz gibão de encantar
E as vestes para usar
O vaqueiro agrestino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

Aprecio o carnaval
Nossas festas genuínas
É só ver as festas juninas
E o nosso litoral
Nossa cultura é colossal
Podemos nos orgulhar
Os outros vêm nos visitar
O Nordeste é seu destino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.
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Zé da luz deixou marcado
O seu verso tão sutil
Conhecido no Brasil
E por muito declamado
E Louro sempre lembrado
E Pinto tão popular
Mestre no improvisar
Hoje no plano Divino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

Sou nordestino da gema
Somos muito importantes
Estamos sempre avantes
Nossa cultura é suprema
Termino esse poema
Pra o povo apreciar
E o nordeste valorar
Que me respeito o sulino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

E o Raimundo Jacó
Um destemido vaqueiro
Do nordeste Brasileiro
Que sofreu de fazer dó
Na lida caído e só
Viu a traição chegar
Na inveja a brotar
Nas mãos de um assassino
Sou matuto nordestino
Nunca irei me envergonhar.

9
Poeta Esperntivo - Orobó-PB
Pádua Gomes Gorrión - Itatuba-PB